terça-feira, 13 de dezembro de 2022

54 anos do AI-5, lembrar para que jamais se repita

54 anos do AI-5 em 13/12/2022, que deve ser lembrado para jamais ser repetido!

Por Gláucio Tavares*

50 anos do AI-5: Em 1968, militares aprofundaram a ditadura e terrorismo de  Estado - Esquerda Online
    Em 31/03/1964, um grupo de militares, sob a justificativa de uma revolução, editou o Ato Institucional n° 1, cujo preâmbulo preconizava:
“CONSIDERANDO que a Revolução Brasileira de 31 de março de 1964 teve, conforme decorre dos Atos com os quais se institucionalizou, fundamentos e propósitos que visavam a dar ao País um regime que, atendendo às exigências de um sistema jurídico e político, assegurasse autêntica ordem democrática, baseada na liberdade, no respeito à dignidade da pessoa humana, no combate à subversão e às ideologias contrárias às tradições de nosso povo, na luta contra a corrupção, buscando, deste modo, "os. meios indispensáveis à obra de reconstrução econômica, financeira, política e moral do Brasil, de maneira a poder enfrentar, de modo direito e imediato, os graves e urgentes problemas de que depende a restauração da ordem interna e do prestígio internacional da nossa pátria."
    Não tardou e a mencionada “revolução” da autêntica ordem democrática, baseada na liberdade, em 13/12/1968, portanto, há 54 anos, decretou o AI-5, o denominado Ato Institucional n° 5, cujo conteúdo estabelecia:
1) o presidente poderá decretar o recesso do Congresso Nacional;
2) Poder Executivo ficava autorizado a legislar;
3) intervenção nos Estados e Municípios (governos biônicos);
4) suspender os direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo prazo de 10 anos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais;
5) suspensão das garantias constitucionais ou legais de: vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidade, bem como a de exercício em funções por prazo certo;
6) decretar o estado de sítio e prorrogá-lo;
7) suspender a garantia de habeas corpus.
    O AI-5 representou o ato mais soberbo do autoritarismo na recente história política brasileira e com sua feição escandalosamente fascista, sustentou um governo de repressão e violência contras as liberdades dos cidadãos brasileiros.
    A perseguição política foi estatizada, com desaparecimento de compatriotas e torturas contra os opositores do regime militar. A imprensa foi amordaçada, sem poder publicizar os inúmeros casos de corrupção e impunidade capitaneados pelos mui amigos do regime. Com isso, a sujeira da nação era estocada embaixo dos tapetes dos militares por força das baionetas.
    No Rio Grande do Norte, o popularíssimo Aluízio Alves teve seus direitos políticos cassados, enquanto o ex-senador José Agripino Maia foi alçado a prefeito biônico de Natal por força do AI-5.
    Noutro giro, o Poder Judiciário, com a suspensão da garantia do habeas corpus, foi impedida de reconhecer as inúmeras prisões ilegais feitas pelos militares de pessoas que tinham coragem de se opor ao regime autoritário. Nesse ínterim, a tortura tornou-se uma prática do Estado brasileiro.
    Compete registrar, para fins de ilustrar os efeitos práticos da verve aberta pelo Ato Institucional n° 5, um episódio absolutamente lamentável descrito no Livro Crimes da ditadura militar / 2ª Câmara de Coordenação e Revisão, Criminal. – Brasília: MPF, 2017.  (fls. 82/83).
    Num dos sinistros casos de prática de torturas utilizada pelo regime militar brasileiro de 1964, relata-se a implicação direta dos oficiais Rubens Paim Sampaio (“Dr. Teixeira”) e Freddie Perdigão Pereira (“Dr. Roberto”). Segundo uma testemunha:
    “Dr. Roberto, um dos mais brutais torturadores, arrastou me pelo chão, segurando-me pelos cabelos.     Depois, tentou estrangular-me e só me largou quando perdi os sentidos. Esbofetearam-me e deram-me pancadas na cabeça. Colocavam-me completamente nua, de madrugada, no cimento molhado, quando a temperatura estava baixíssima. Petrópolis é intensamente fria na época em que lá estive (oito de maio a onze de agosto). Fui várias vezes espancada e levava choques elétricos na cabeça, nos pés, nas mãos e nos seios. Nesta época, Dr. Roberto me disse que eles não queriam mais informação alguma: estavam praticando o mais puro sadismo, pois eu já fora condenada à morte e que ele, Dr. Roberto, decidira que ela seria a mais lenta e cruel possível, tal o ódio que sentia pelos ‘terroristas’. […]
    Alguns dias após submetida a verdadeiro horror, apareceu o Dr. Teixeira, oferecendo-me uma saída ‘humana’: o suicídio. Disse-me que eu tinha sido condenada à morte, mas ao invés de uma morte lenta nas mãos do Dr. Roberto, eu poderia dar cabo da minha vida. Aceitei e pedi um revólver, pois já não suportava mais. Entretanto, Dr. Teixeira queria que o meu suicídio fosse público. Propôs-me então que eu me atirasse debaixo de um ônibus como já fizera. [...]
    Por não ter me matado, fui violentamente castigada: uma semana de choques elétricos, banhos gelados de madrugada, ‘telefones’, palmatórias. Espancaram-me no rosto, até ficar desfigurada. A qualquer hora do dia ou da noite, sofria agressões físicas e morais. ‘Márcio’ invadia minha cela para ‘examinar’ meu ânus e verificar se ‘Camarão’ havia praticado sodomia comigo. Este mesmo ‘Márcio’ obrigou-me a segurar seu pênis enquanto se contorcia obscenamente. Durante este período, fui estuprada duas vezes por Camarão e era obrigada a limpar a cozinha completamente nua, ouvindo gracejos e obscenidades, os mais grosseiros.” (Possível baixar gratuitamente no link: http://memorial.mpf.mp.br/nacional/vitrine-virtual/publicacoes/crimes-da-ditadura-militar)

    A ditadura militar e o seu ato jurídico mais horrendo, o AI-5, que completará 54 anos neste próximo dia 13/12/2022, não devem ser esquecidos, haja vista que esse horror da História do Brasil precisa ser conhecido por todos para jamais ser repetido.


*Gláucio Tavares é graduado em farmácia pela UFRN, bacharel em Direito pela UERN, pós-graduado em Direito Penal e Direito Tributários pela Universidade Anhanguera-LFG e ativista político pela democracia.

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Festival Cultural celebra 18 anos do Movimento Alternativo GOTO SECO

 

 O GOTO SECO Movimento Alternativo celebra 18 anos em 2022 com Festival Cultural que ocorre sábado, dia 17 de setembro na cidade de Ceará-Mirim/RN.

Desde 2004 atuando no Rio Grande do Norte, o coletivo Goto Seco reúne multilinguagens em um Festival com muita música, teatro, artes plásticas e poesia, marcando seus 18 anos de resistência.

O evento reúne mpb, rock, rap, reggae e instrumental percussivo, grupo de metais, viajando do erudito ao popular ancestral,  tendo como atrações musicais o violonista Dedé Simião, Banda Toque de Pífanos, Sexteto Quiálteras de metais, Rock Manfredini, Vânia Simião, Arapuá, Joe Rap, Banda Batuque, Rock Story e Allan Rastafeeling.

A poesia corre solta com sarau durante todo o evento com poetas e cordelistas. O artista Crésio Torres encena a peça “Ivo Maia Vive!” em homenagem ao grande artista Ivo Maia, vítima da Covid e sempre presente em eventos do movimento.

O evento contará também com feirinha cultural, lançamento de livros, exposição artística e artesanato.

Festival Cultural GOTO SECO de MusicArtePoesia

Quando? Sábado, 17 de setembro de 2022

Que horas? À partir das 18h

Onde? Cynara Music Bar, R.Aureliano, 872, Conj.Paraiba, Ceará-Mirim/RN

Entrada: 20 reais.
Mais detalhes: Instagram: @gotoseco_movimento
Facebook Goto Seco
YouTube Goto Seco www.gotoseco.blogspot.com

Arte contra a barbárie!
 Viva a resistência e a cultura!













 

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

O Panorama atual do Rock & O Tributo a Raul Seixas em Ceará-Mirim por Pedro Carlos

 O Panorama atual do Rock & O Tributo a Raul Seixas em Ceará-Mirim

 Pedro Carlos da Rocha Neto

Cirurgião-Dentista, Mestre e Especialista em Patologia Oral e Maxilofacial

 

A originalidade do Rock é observada em todos os seus estilos – nesta série de artigos foram citados os estilos originais de cada década, que deram origem aos diversos subgêneros de rock - que se desenvolveram desde o início do gênero musical, no final dos anos 1940, até a década de 1980. Todos os estilos dessas décadas são crivados de teor crítico sociopolítico e cultural, com maior ou menor efervescência, e desenvolveram importante papel na formação de opinião pública relacionada a momentos da História recente. Porém, o Rock vem sofrendo um enfraquecimento efetivo da sua característica sociopolítica e socioantropológica desde a década de 1990, quando ainda apresentava algum bom conteúdo social, político e cultural. Sendo assim, de lá para cá o Rock vem sendo gradativamente substituído por algo que tem a pretensão de se intitular Rock: um rock vinagre. E, atualmente, parece que só um milagre é capaz de fazer o vinagre se transformar em vinho. Portanto, parece que o Rock está virando artigo de museu da História.

No Brasil e no mundo o rock puro ainda pulsa através das atitudes, do pensamento e até do estereótipo inconvencional de muitas pessoas, pois, pode-se dizer, a ousadia de ser diferente do comum tem muita relação com o raciocínio crítico que o Rock germinou na sociedade. Isso porque o Rock desde o início impulsionou um modo diferente de lidar com a solidez das convenções e tradições. Sendo assim, o estereótipo dos amantes do Rock normalmente se destaca na sociedade, seja pela barba, cabelo, brincos, tatuagens, roupas, ou pelo comportamento, pois é uma maneira de afirmar, com civilidade, sua transgressão à retilinearidade dos padrões sócio-político-culturais, e assim dizer à sociedade que eles pensam com a própria cabeça.

Em Ceará-Mirim, no dia do Tributo a Raul Seixas, a cidade tem uma amostra da essência do Rock e percebe a civilidade daquelas pessoas nada convencionais. Naquele dia de agosto, há mais de 30 anos, Ceará-Mirim é invadida por várias tribos de roqueiros vindos de várias cidades do Rio Grande do Norte e de outros Estados, de maneira que a cor preta das roupas se torna predominante nas ruas da cidade. Os bandos de motoqueiros que entram na cidade são um show à parte.

 

A cidade fica observando as atitudes, as roupas, os cabelos, as barbas, as tatuagens, os brincos/piercings e as preferências por locais arborizados, como as praças da Igreja Matriz e da Câmara Municipal, ou calçadas, onde aquelas pessoas gostam de se sentar para conversar, beber e fumar. Sem falar na viagem de trem, que vem de Natal lotado de rockeiros curtindo o início da aventura daquele dia - uma referência à música “O Trem das Sete” - e na prévia do evento que é feita no Mercado Público de Ceará-Mirim, onde eles saboreiam as iguarias da cidade, conversam, bebem e fumam, curtindo a apresentação de bandas naquele lugar que tem muito a ver com o estilo Rock e Baião de Raul Seixas. 

 

 

É um dia de aventura e êxtase para os amantes do Rock, uma espécie de Festival de Woodstock no Brasil, onde é possível experimentar o escapismo de um dia de “Sociedade Alternativa”, em que a única regra é ser um “Maluco Beleza”. Porém, vale ressaltar que, além da diversão, o Tributo a Raul Seixas movimenta a economia da cidade de Ceará-Mirim, de maneira que as hospedarias e os bares lotam, as lojas de roupas vendem todo o estoque de peças pretas e o Mercado Público “escurece” de tantos roqueiros que o superlotam no dia do evento. Mas, o que mais chama a atenção da cidade é a relativa placidez daquele povo nada convencional, que sempre surpreende pela educação e civilidade.

 

 A ideia de fazer um tributo a Raul Seixas surgiu no ano seguinte a morte de Raul. Ocorreu num dia de sábado, na casa do pai de Erivan Lima, onde estavam Erivan, Eliel Silva e Giancarlo Vieira bebendo e batendo um papo. Naquela ocasião, Eliel sugeriu a Erivan que ele fizesse um tributo a Raul Seixas e apresentasse sua coleção de peças sobre Raul, que ele vinha juntando desde 1981. Erinho de imediato não achou que daria certo, por receio de Ceará-Mirim não acatar a ideia. Porém, em 18 de agosto de 1990, Erivan Lima, Eliel Silva, Giancarlo Vieira e João Palhano fizeram o 1° Tributo a Raul Seixas, intitulado de “Maluquez Revisitada”, no Centro Esportivo e Cultural. E, apesar do receio de Erinho, o evento surpreendeu com cerca de 300 pessoas.

 

 

 

Os primeiros Tributos, então, eram feitos no Centro Esportivo e Cultural e abertos ao público, com o equipamento de som alugado a Luiz, de Forró do Povo. Os eventos eram feitos com apenas um grupo de músicos amigos que animavam a galera tocando exclusivamente músicas de Raul. Tudo era bem simples e mais parecido com uma brincadeira entre amigos. Vale lembrar que entre os músicos e vocalistas dos primeiros Tributos a Raul Seixas em Ceará-Mirim, estão Eliel Silva, Ionaldo de Oliveira, Giancarlo Vieira, Mércio Lemos, Ruy Lima, Luciano Oxó, Vitoriano Roberto, Marcos Soares e os filhos do escultor Etevaldo, Manoel e Naldo. Por sua vez, Erinho, devido a sua timidez, não cantou nos 6 primeiros Tributos, passando a fazê-lo somente a partir do sétimo. Desde então, ele passou a ser popularmente conhecido como Erivan Seixas.

 

 

Sendo assim, desde 1990, todos os anos, em agosto, mês da morte de Raul Seixas, acontecia no Centro Esportivo e Cultural de Ceará-Mirim o festival Maluquez Revisitada, mais conhecido como Tributo a Raul Seixas, onde Erivan Lima faz a exposição da sua coleção de itens sobre Raul Seixas, com a finalidade de celebrar e divulgar a obra do músico baiano. Porém, o evento foi aumentando a cada ano, com participação de várias bandas de rock e um público cada vez maior, de maneira que, a partir de 2012, passou a ser realizado no largo da Estação Cultural da cidade.

 

 

O evento, que é denominado oficialmente de Maluquez Revisitada, ganhou o reconhecimento da Câmara Municipal de Ceará-Mirim em 2012, através do Decreto Lei n° 013/2012, que determina o acontecimento do Tributo sempre no terceiro sábado do mês de agosto.

Em agosto de 2022, a Câmara Municipal de Ceará-Mirim aprovou o Projeto de Lei n° 32/2022 que declara o Tributo a Raul Seixas como Patrimônio Cultural Material/Imaterial do Município de Ceará-Mirim, considerando que o evento é de grande relevância para o Município e para o Estado do Rio Grande do Norte.

Portanto, Ceará-Mirim continuará gritando aos quatro cantos do Rio Grande do Norte e do Brasil:

- Toca Raul!

   

 Para ler as outras partes desta série de artigos, acesse os links abaixo:

 http://gotoseco.blogspot.com/2020/10/artigo-rock-e-atitude-contribuicao.html?m=1

 http://gotoseco.blogspot.com/2020/10/rock-e-atitude-contribuicao.html?m=1

 http://gotoseco.blogspot.com/2020/11/rock-e-atitude-contribuicao.html?m=1

 http://gotoseco.blogspot.com/2020/11/rock-e-atitude-contribuicao_19.html?m=1

 http://gotoseco.blogspot.com/2020/12/rock-e-atitude-contribuicao.html?m=1

 http://gotoseco.blogspot.com/2020/12/rock-e-atitude-contribuicao_16.html?m=1

 

 
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