terça-feira, 3 de novembro de 2020

Rock é Atitude: A Contribuição Sociopolítica do Rock ao Longo das Décadas (Parte 3/8)

 O Rock nos anos 1970: o peso do Rock

Por Pedro Carlos da Rocha Neto,
Cirurgião-Dentista, Mestre e
Esp.em Patologia Oral e Maxilofacial

        A história do Rock na década de 1970 foi profundamente marcada pelo domínio do Rock Progressivo (ou prog rock), que é considerado um fruto do psicodelismo dos anos 1960. Esse estilo de rock, na verdade, surgiu no final dos anos 1960 na Inglaterra, mas só se popularizou mundialmente na década de 1970. Ele tem uma proposta mais elaborada na técnica de produção musical, com músicas de longa duração e forte influência de músicas eruditas. Sob o ponto de vista sociopolítico, o Rock Progressivo flerta com críticas à política, ao capitalismo, ao consumismo e ao sistema educacional opressor, sendo, portanto, um influenciador de opinião pública. Porém, ele é criticado por ser considerado um rock elitista. Apesar disso, ele dominou a década de 1970, conquistando uma ala dos simpatizantes do Rock considerada moderada e intelectualizada. 

        Por outro lado, na década de 1970 o Rock tomou conformações mais agressivas através das suas novas modalidades de sonoridade pesada e veloz: Heavy Metal e Punk Rock. Essa agressividade do rock surgiu, até certo ponto, como uma reação às inovações “bonitinhas” da Disco Music, que estava em alta e transformou muitas casas de rock em discotecas.
       Foi nessa década que o Hard Rock ganhou mais expressividade, apesar de ter surgido em meados da década anterior, no Reino Unido, como um estilo de rock mais pesado e veloz do que o Rock and Roll tradicional. Essa sonoridade pesada frequentemente confunde o Hard Rock com o Heavy Metal, quando, na verdade, os dois são estilos de rock diferentes: o Hard Rock se aproxima mais das raízes no Blues e enfatiza mais a melodia. Uma distinção entre esses gêneros bem aceita é a seguinte: o Hard Rock é um estilo de rock que tem um som muito pesado e veloz para ser classificado simplesmente como Rock and Roll, mas que também não tem um som tão pesado assim para ser classificado como Heavy Metal. Sendo assim, numa escala de peso e velocidade sonoros, é como se o Hard Rock estivesse no meio termo entre o Rock and Roll e o Heavy Metal. No mais, alguns críticos consideram o Heavy Metal como uma derivação do Hard Rock.
      Quanto ao Heavy Metal, ele surgiu no final da década de 1960, nos EUA e Reino Unido, e teve seu auge na década de 1970. Ele é caracterizado por um som massivo, encorpado e distorcido, com uma sonoridade veloz e em tons menores, dando um ar sombrio às composições, que pela primeira vez trataram de temáticas depressivas, como o lado sombrio do consumo de drogas. No início o gênero não apresentou um aspecto propriamente crítico do ponto de vista político, pois suas músicas apenas exaltavam a curtição e um estilo de vida descompromissado, com muitas festas, sexo e bebedeiras, e faziam também questionamentos sobre os estudos e o trabalho, além de abordarem outras temáticas como drogas, morte, escatologia e bizarrices. Portanto, muitos críticos definem como juvenis e banais as músicas do Heavy Metal dos anos 1970. Porém, isso mudou na década seguinte, quando seu subgênero - Thrash Metal - incorporou temáticas sociopolíticas em suas músicas. Quanto ao visual dos simpatizantes de gênero, vale citar que, para os homens, o uso de cabelos compridos é uma marca do Heavy Metal.
       Já o Punk Rock surgiu em meados da década de 1970, nos EUA e Reino Unido, como uma resposta agressiva e direta ao domínio “entediante” do Rock Progressivo, com uma proposta musical exatamente oposta a do prog rock , ou seja, músicas rápidas, agressivas, ruidosas e com poucos acordes. O estilo agressivo das músicas fez surgir um movimento de roqueiros de comportamento extremamente rebelde e aparência extravagante, com botas/cotunos, calças jeans rasgadas ou calças pretas justas, jaquetas de couro com rebites, piercings, correntes e cabelos coloridos, moicanos ou espetados. Além disso, muitos dos adeptos do estilo punk apresentavam comportamento agressivo e antissocial, e frequentemente faziam depredações de patrimônios públicos como forma de contestar a ordem política e social. Muitos desses jovens eram adeptos do uso de drogas, principalmente a heroína, a cocaína e anfetaminas. A anarquia era uma máxima pregada por esses grupos. Porém, apesar de toda contravenção incitada pelo Punk Rock, ele foi o gênero de rock que mais utilizou temáticas sociopolíticas nas suas músicas na década de 1970, tais como críticas ao racismo, ao machismo, à homofobia, à xenofobia, ao desemprego, ao governo, ao imperialismo e às guerras, e seu modus operandi propôs um sentimento de atitude na sociedade que mais tarde seria traduzido como “do it yourself”, ou seja, “faça você mesmo”.

     O Punk Rock se manifestou no Brasil logo após seu surgimento, mas as principais bandas punk só se formaram no final dos anos 1970 e, principalmente, início da década de 1980, tais como Restos de Nada, AI-5, Cólera, Aborto Elétrico, Olho Seco, Inocentes, Ratos de Porão, Camisa de Vênus e Plebe Rude. O movimento punk brasileiro logo se configurou com uma ideologia de forte crítica à censura, à repressão do regime militar e à exploração do trabalhador, e teve participação ativa na luta por eleições presidenciais diretas, durante o fim da década de 1970 e primeira metade da década de 1980.

    Sob outra perspectiva, distante da sociopolítica, a década de 1970 também experimentou, por pouco tempo, o Glam Rock britânico, que é caracterizado pela aparência andrógina dos músicos - roupas com lantejoulas, saltos plataformas, maquiagem pesada, cílios postiços, batons, sombras marcantes e muita purpurina - e pelas temáticas adolescentes e sexuais exploradas nas músicas. O cantor David Bowie é um ícone emblemático desse estilo de rock.

     No Brasil, é importante destacar que foi em 1974 que Raul Seixas, com seu estilo rock e baião, alcançou expressiva notoriedade nacional com o sucesso do disco “Gita”. O curioso é que o mesmo disco que o fez ser exilado nos EUA pela ditadura, o fez retornar ao Brasil com o consentimento dos militares devido ao surpreendente sucesso do disco. O grande motivo do seu exílio, pode-se dizer, foi a mensagem pregada pela música “Sociedade Alternativa”, que foi entendida pelo governo militar como um movimento revolucionário contra o governo. Apesar disso, o sucesso do disco e da música foi tão impactante que “obrigou” o governo militar a trazer Raul de volta do exílio e, ao mesmo tempo, gerou efeitos colaterais contra a ditadura, pois promoveu a formação de opinião pública contrária ao regime e criação de uma visão crítica e, de fato, alternativa aos padrões da política e da sociedade - essa visão alternativa se tornou um legado de Raul Seixas. Já Rita Lee e a banda Tutti Frutti manifestaram claramente seu posicionamento contra o regime militar, através de suas músicas que expressavam um descontentamento sobre os rumos do Brasil e um anseio por liberdade. Algumas dessas músicas foram censuradas na ditadura, mas plantaram uma semente de contestação sociopolítica na opinião pública.

    Algumas bandas de sucesso na década de 1970 são: Scorpions; Pink Floyd; The Nice; Soft Machine; King Crimson; Jethro Tull; Rush; Emerson, Lake & Palmer; Yes; Kansas; Led Zeppelin; Deep Purple; Iron Maiden; Motörhead; AC/DC; Black Sabbath; Kiss; Aerosmith; Queen; The Ramones; Sex Pistols; New York Dolls; The Stooges; Grand Funk Railroad; Genesis; Uriah Heep; Blue Cheer; Whitesnake; Rainbow; Van Halen; The Clash; The Sweet; Hello; Mott the Hoople; 14 Bis; A Cor do Som; Moto Perpétuo; Patrulha do Espaço; Vímana; Made in Brazil; Som Nosso de Cada Dia; A Barca do Sol; Módulo 1000; Bacamarte; Som Imaginário; Tutti Frutti (com Rita Lee); O Terço; e Casa das Máquinas, além do próprio Raul Seixas. A título de informação, vale esclarecer que algumas bandas assumem apenas um estilo/gênero de rock, enquanto que outras - a maioria - flertam com seus diferentes gêneros.

Fontes:
https://blog.estrela10.com.br/musica/o-rock-nos-anos-70/
https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%BAsica_disco
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rock_progressivo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Heavy_metal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hard_rock
https://pt.wikipedia.org/wiki/Punk_rock
https://www.letras.mus.br/blog/bandas-de-punk-rock/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_punk
https://medium.com/@pedrozuccolotto/o-punk-no-brasil-e-sua-rela%C3%A7%C3%A3o-com-a-ditadura-militar-db179cf0b3fe
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_punk#:~:text=O%20punk%20surgiu%20por%20volta,filosofia%20da%20individualidade%20e%20a
https://tribunademinas.com.br/noticias/cultura/13-05-2018/tempo-punk-jf.html
https://www.clickriomafra.com.br/rocknauta/o-rock-ao-longo-dos-anos-e-decadas-suas-influencias-mudancas-novas-vertentes
https://www.revistacontemporaneos.com.br/wp-content/uploads/2017/07/artigo-rock-
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hello_(banda)1.pdf
https://pt.wikipedia.org/wiki/Mott_the_Hoople
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tutti_Frutti_(banda)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Gita_(%C3%A1lbum)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Glam_rock#:~:text=Glam%20rock%20(abrevia%C3%A7%C3%A3o%20de%20glamour,meados%20de%201971%20e%201973.
https://pt.wikipedia.org/wiki/14_Bis_(banda)
https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Cor_do_Som
https://pt.wikipedia.org/wiki/Moto_Perp%C3%A9tuo_(banda)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Patrulha_do_Espa%C3%A7o
https://pt.wikipedia.org/wiki/Vímana_(banda) 

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