Relação de custo-benefício decidirá futuras invasões
Bruxelas - Será derrubado Kadafi? A Líbia será dividida? Aumentará o preço do petróleo? As insurreições árabes contaminarão as monarquias do Golfo Pérsico? Participarão todos os 27 países membros da União Européia de uma eventual intervenção militar contra Kadafi? Ou somente os membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan)? Ou apenas alguns? Ou nenhum?
Muitas são as perguntas deste tipo que ocupam os europeus e os norte-americanos. E não só os líderes políticos, mas, também, os simples cidadãos. O entusiasmo com o qual o mundo deu as boas-vindas às pacíficas insurreições do povo desarmado de Tunísia e do Egito cedeu, gradualmente, seu lugar a uma posição de reserva à insurreição organizada e armada da Líbia por círculos que, comprovadamente, mantinham antecipadamente contatos com os EUA e seus aliados na região do Grande Oriente Médio.
Por ora, o preço do petróleo não corre risco algum por causa dos sangrentos conflitos na Líbia. A Arábia Saudita reúne condições de produção para cobrir, imediatamente, qualquer falta de petróleo líbio (o que, aliás, já está fazendo).
A especulação - e só - empurra os preços acima dos US$ 76 o barril em setembro do ano passado, para US$ 104 mês passado, antes do início do imbróglio líbio. Aumento de 50% sem razão, enquanto aumentou somente 10% após a eclosão do imbróglio líbio.
Ao que tudo indica, EUA e Otan invadirão a Líbia somente quando verificarem que Kadafi vencerá seu adversários - embora a relação custo-benefício não é vantajosa, como foi com Afeganistão e Iraque. De outra forma, deixarão que os líbios se matem, indefinidamente.
Para os EUA e a Europa não será nenhum problema uma eventual divisão da Líbia em dois Estados. Basta-lhes apenas que o petróleo extraído dos dois novos Estados seja canalizado ao mercado internacional, algo que é, por antecipação, rigorosamente certo.
As relações dos países da Europa recrudescerão se os EUA decidirem invadir a Líbia. Os pretextos sobre "decisão da ONU" e as justificativas de "caráter humanitário" da guerra não terão, obviamente, nenhuma repercussão entre os povos do Mundo Árabe.
Mas, na Arábia Saudita, será jogado o grande jogo das insurreições árabes. Ali é que pulsa o coração petrolífero da economia mundial. As insurreições a cercaram já: no Iêmen e no Omã, em suas fronteiras do Sul. No Bahrein, nas do Nordeste. No Egito, na do Oeste; e no Iraque, ao Norte.
Arábia virará inferno
O pesadelo do "segredo" consiste ao fato de que 80% dos poços petrolíferos da Arábia Saudita situam-se na região Nordeste do país, ali onde a maioria da população árabe-saudita é xiita, dentro da Arábia Saudita extremamente sunita, e, se isso não fosse suficiente, por cima encontram-se as regiões xiitas do Iraque.
Exatamente ao lado, no pequeno Bahrein, onde a maioria xiita já está em pé de guerra e quer derrubar a monarquia sunita.
Quando os árabes-sauditas se insurgirem, virá inferno. Centenas de milhares de xiitas do Iraque - por iniciativa própria ou incentivados pelo xiita Irã - invadirão o território da Arábia Saudita para ajudarem os árabes-sauditas xiitas, seus irmãos, os quais, tentam massacrar os árabes-sauditas sunitas.
Será o caos absoluto, com os EUA invadindo a Arábia Saudita e ocupando os poços de petróleo. Aí sim, a relação custo-benefício será extremamente vantajosa. Mas provocará a guerra entre Ocidente e Mundo Árabe.
Mary Stassinákis -monitormercantil.com.br
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