por Alex Galeno
O filosófo Byung-Chul Han alerta para o perigo contemporâneo de não levarmos em conta a presença da dor em nossas ações. Para ele, vivemos uma algofobia generalizada, isto é, uma intolerância com a dor e, portanto, anestesia permanente. O lema é evitar qualquer dor, incluindo as dores do amor. Tal valor se estende também para o social e para a política. Neste sentido, a problemática da dor não deve ser tratada apenas na esfera médica. Mesmo as dores da alma - carregadas de angústias- não devem se encerrar apenas nas responsabilidades psicológica e psiquiátrica, que na atualidade nos induzem a uma felicidade medicamentosa.
As dores contêm um conteúdo político por excelência, pois a ausência delas significa conformidade em busca de amplos consensos. Somos coagidos a não divergir nem a nos revoltar. Não importa se o aliado do presente carregue marcas de um passado golpista ou corruptível. Ora, se somos praticantes de políticas paliativas, seremos também incapazes de reformas significativas e profundas da sociedade. Assim, de tanto adiarmos o essencial em nome da urgência do pragmatismo político, perdemos a urgência do essencial no presente. Nunca a palavra "centro " foi tão propalada na política. Esta zona ambígua anestesiante. Na esquerda e na direita todos se voltaram para um tal centro ou para uma tal composição ampla. Nele devem caber todos! Em nome da governabilidade, da democracia política abstrata e diante da ausência de alternativas duradouras, esquerda e direita navegam em um mesmo barco. Devemos recuperar a capacidade de dizer não, pois como diria Gabriel Tarde, “existir é diferir". Foi assim que mulheres, indígenas, negros, segmentos LGBTQI+ conquistaram direitos e imprimiram novos valores na cultura e na sociedade. Em nome da urgência em derrotar os fascismos bolsonaristas, nos tornamos anestesiados para outros. E assim, adiando conflitos fundantes para uma sociedade não paliativa.
segunda-feira, 18 de abril de 2022
Algofobia política
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