O Rock nos anos 1960: a explosão sociopolítica do Rock
por Pedro Carlos da Rocha Neto (Cirurgião-Dentista, Mestre e
Especialista em Patologia Oral e Maxilofacial)
A projeção mundial do Rock foi impulsionada nos anos 1960 com as bandas inglesas The Beatles e The Rolling Stones - a primeira tinha visual e comportamento mais contidos, a segunda era mais ousada e rebelde. Além disso, foi nessa década que o Rock desenvolveu a sua característica sociopolítica, e se configurou em seu estilo mais puro, ou seja, Rock and Roll.
Ao contrário dos norte-americanos, os ingleses tinham mais questionamentos para levar à música, principalmente o colonialismo, os costumes vitorianos e o puritanismo, além da Segunda Guerra Mundial. Além do mais, no início da década de 1960, as bandas The Beatles e The Rolling Stones absorveram a crítica social das músicas Folk de Bob Dylan, que eram recheadas de temáticas relacionadas à luta das classes operárias, à exploração contra minorias e a eventos isolados de violência e racismo. Sendo assim, essas bandas compuseram músicas que exerceram forte influência na sociedade com a construção de um pensamento crítico sociopolítico e o desenvolvimento de um movimento de estilo de vida alternativo: o Movimento Hippie. Dessa forma, o estilo de vida hippie se tornou uma marca de protesto contra os valores tradicionais da sociedade e contra a Guerra do Vietnã, de maneira que o objetivo do movimento era atacar o sistema, ou seja, uma sociedade que produzia miséria, violência, guerras e discriminação.
O Movimento Hippie dos anos 1960 incitou marchas públicas em prol do meio ambiente, da liberdade sexual, de movimentos feministas e dos direitos civis dos afro-descendentes, e contrários às guerras, à discriminação de minorias e ao consumismo capitalista, dentre outras temáticas sociopolíticas levantadas. Sendo assim, o Movimento Hippie, amplamente influenciado pelo Rock and Roll dos anos 1960, foi um impulsionador de muitas transformações sociais e políticas nos anos 1960 e nas décadas seguintes. Porém, a incitação do movimento ao consumo de drogas psicodélicas como maconha, LSD e extratos de cogumelos, que eram largamente usadas por hippies como uma via de estímulo da criatividade através da “expansão da mente”, foi alvo de muitas críticas, o que, porém, não anulou o inestimável legado sociopolítico do Movimento Hippie para o mundo. É nesse contexto que se desenvolveu o estilo de rock Acid Rock ou Rock Psicodélico, que tentava demonstrar através da música experiências com o uso de LSD - os efeitos sonoros de distorção da guitarra foram criados nesse estilo de rock com esse propósito.
A efervescência psicodélica dos anos 1960 alcançou o seu auge durante os dias 15 a 18 de agosto de 1969, quando ocorreu numa fazenda de gado em Nova Iorque o lendário Festival de Woodstock. Esse festival reuniu 400 mil pessoas numa celebração musical e cultural da contracultura hippie, com muita permissividade para fazer valer a máxima “sexo, drogas e rock’n’roll”, tudo sob a atmosfera dos lemas “paz e amor” e “faça amor, não faça guerra”.
Dentre os principais representantes musicais da contracultura hippie destacam-se os músicos Jimi Hendrix, Jim Morrison e Janis Joplin, e bandas como Quicksilver Messenger Service, Jefferson Airplane, Grateful Dead, Santana, The Doors e The Mamas and The Papas. Além dessas bandas, outras também escreveram a história do Rock dos anos 1960, como The Kinks, The Who, The Yardbirds, The Animals, Quill, Keef Hartley Band, Country Joe and the Fish, Mountain, Creedence Clearwater Revival, Sly & the Family Stone, Joe Cocker, Johnny Winter, Sha Na Na, Paul Butterfield Blues Band, Cream, Velvet Underground e Beach Boys.
No Brasil, apesar do seu surgimento na década anterior e como consequência da influência principalmente de Elvis Presley e The Beatles, o Rock se expressou com efetividade na década de 1960 através do movimento Jovem Guarda. Esse movimento revolucionou a moda, o jeito de falar e o comportamento dos jovens no Brasil, o que era notado no estereótipo despojado, nas gírias e na aparência das moças e rapazes, que adotaram um modo mais “transado” de se vestir e se comportar. Foi nesse contexto que calças boca de sino, jaquetas, botas brancas de cano longo de vinil, calças cigarrete e minissaias, dentre outros itens inovadores, passaram a fazer parte do visual dos jovens brasileiros - acompanhando as tendências do mundo -, como uma afirmação de personalidade própria desses jovens, o que era visto como rebeldia pela parcela conservadora da sociedade.
No entanto, inicialmente a Jovem Guarda não expressou nenhum conteúdo crítico sociopolítico, pois as músicas eram apenas de entretenimento, abordando assuntos como namoro, roupas, carros e velocidade, e seus maiores expoentes foram Roberto Carlos, Erasmo Carlos (o “Tremendão”), Wanderléa (a “Ternurinha”) e Sérgio Murilo (o “Broto Legal”).
Por outro lado, o aspecto crítico e contestador do rock brasileiro à sociedade, à política e à cultura, influenciado pelo Movimento Hippie dos EUA, foi introduzido, como que de forma underground, na era da Jovem Guarda pelas bandas de rock Relâmpagos do Rock e Os Mutantes, das quais faziam parte, respectivamente, os jovens Raul Seixas e Rita Lee, que posteriormente se tornariam símbolos do rock nacional. Além do mais, somado a essa ala contestadora da Jovem Guarda, é importante destacar que no final da década de 1960 surgiu no Brasil o movimento cultural Tropicália - ou Tropicalismo -, de forte cunho crítico à ditadura militar, que na música é considerado um importante representante do rock nacional, principalmente pela performance das guitarras elétricas na estética musical, pelo conteúdo crítico das músicas e pelo visual hippie dos músicos. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e a banda Os Mutantes estão entre os principais representantes do Tropicalismo na música. Sendo assim, a ala contestadora da Jovem Guarda e a Tropicália deram voz ao povo amordaçado pela censura do AI-5, através de músicas recheadas de metáforas contra a ditadura militar, e assim incendiaram a opinião pública contra o autoritarismo daquele regime político.
Por fim, a ala contestadora do rock brasileiro da década de 1960, devido ao seu conteúdo crítico ao sistema sóciopolítico vigente, sofreu grande repressão da ditadura militar e muitos dos seus músicos sofreram censuras, sendo alguns presos ou exilados.
Fontes:
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https://www.intrinseca.com.br/blog/2019/02/o-renascimento-do-lsd-a-droga-dos-hippies-agora-tambem-pode-mudar-a-sua-vida/
http://temposjovemguarda.blogspot.com/2008/08/moda-da-jovem-guarda.html
https://angloriopreto.com.br/e-hora-de-rock-n-roll-a-historia-do-estilo-mais-popular-do-ocidente/
https://rollingstone.uol.com.br/noticia/bob-dylan-queria-fazer-disco-com-os-beatles-e-rolling-stones-em-1969-entenda-historia/
https://www.clickriomafra.com.br/rocknauta/o-rock-ao-longo-dos-anos-e-decadas-suas-influencias-mudancas-novas-vertentes
http://psicojornal.blogspot.com/2012/08/quando-foi-68-brasil-contexto-nordeste.html
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